quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
OURO PRETO
Não se sabe ao certo quem descobriu a primeira pedrinha de ouro. Corria algum dia entre 1693 e 1698. Provavelmente a expedição era comandada por Duarte Lopes. Naqueles idos bandeirantes serpenteavam as montanhas de Minas em busca da lendária Serra de Sabarabuçu, relatada pelos índios. Eram homens rudes, pois as adversidades assim exigiam, mas não perdiam a sensibilidade para reconhecer o fausto. Tanto é assim que nosso anônimo descobridor decerto ficou curioso com as pedrinhas escuras encontradas, enquanto escarafunchava o rio Tripuí (água veloz, em tupi). Ouro negro, eclipse de um sol de mais puro quilate, encoberto por uma camada fina de óxido de ferro.
Rio Tripuí, onde foram encontradas as primeiras amostras de ouro
Capela de São João, primeiro templo de Ouro Preto (1698)
A amostra chegou ao Rio de Janeiro, aos olhos do governador, que já havia recebido outras anteriores das minas de Itaverava. Constatado seu valor deu-se início à corrida. A fábula povoou a imaginação de aventureiros, que se introduziram nas matas num sobe e desce em busca de uma referência para a glória, um pico chamado Ita-corumi (pedra-menino), hoje Itacolomi. Aos seus pés estavam as tão sonhadas minas.
Bandeira de Antônio Dias em 1698: a primeira a chegar. A fundação de um primitivo arraial se deu no morro de São João, onde também foi celebrada a primeira missa pelo padre João de Faria Fialho. Um grupo relativamente pequeno, que depois se multiplicaria aos milhares. Trinta anos depois a cidade contaria perto de 40 mil pessoas, a maior aglomeração de toda a América Latina. Quarenta mil interesses diferentes... E o ouro, apesar de muito, não era suficiente para alimentar a ambição. Começam os confrontos.
Entre 1707 e 1709 ocorreu o primeiro grande conflito, envolvendo essencialmente paulistas e portugueses: a Guerra dos Emboabas. Ambos defendiam terem direitos legítimos sobre o eldorado, reivindicavam a concessão de terras e minas. Ainda em 1709 seria criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, tendo Mariana como capital. Dois anos mais tarde os núcleos de Ouro Preto, Antônio Dias, Ouro Podre e Padre Faria foram elevados à categoria de vila. Nascia a Vila Rica de Albuquerque.
Enquanto no litoral a sociedade colonial permanecia engessada em sua estrutura fechada, em Minas nascia um caos social que se movimentava efervescentemente. Ambição era a locomotiva, o ouro o combustível. Ascensão social, embora difícil, era possível: bastava uma bateada feliz e muita astúcia. Mercadores, artesãos, engenheiros, advogados, clero, nobres, médicos, poetas, serviçais... O ecletismo se firmava, gerando uma nova consciência, um espírito libertino, capaz de caminhar com os próprios pés. Não foi uma tarefa fácil. Que o digam Felipe dos Santos e os Inconfidentes (ler "Sonho de Liberdade").
Minas crescia e em 1720 tornou-se uma capitania autônoma, sendo a capital transferida para Vila Rica. Encontrava-se ouro como em nenhum outro lugar, fazendo as lendas do Rei Salomão parecerem ingênuos contos infantis. A festa para celebrar o translado do Santíssimo Sacramento (1733), da igreja do Rosário para a matriz do Pilar, marcou esta época. Cronistas relatam a pompa das vestimentas e artefatos, repletos de ouro e pedras preciosas.
Ponte Antônio Dias (ou Marília de Dirceu) Ponte dos Contos - 1755
Oratório Bom Despacho Casario e as ruas enfeitadas na Semana Santa
Chafariz Marília de Dirceu
O fausto durou até 1750. A partir daí o metal amarelo começou a escassear. A Coroa intensifica a fiscalização, combatendo o contrabando (muito grande), e força os mineradores a garantirem as cotas estabelecidas de impostos. A opressão culminou com a Inconfidência Mineira, movimento rechaçado duramente por Portugal. Minas e o Brasil não seriam mais os mesmos.
Vila Rica virou Imperial Cidade de Ouro Preto em 1823 e permaneceu como capital da Província de Minas Gerais até 1897, ano da inauguração de Belo Horizonte. Os anos setecentos se foram, mas legaram um futuro que hoje nos presenteia com uma das histórias mais interessantes da saga humana.
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